Padre Ailton escreve aos jovens - Opinião e esclarecimento - Padre Ailton escreve sobre a campanha contra o extermínio de jovens

27/10/2011 10:22

 

Há muito se vem falando da Campanha contra a violência e o extermínio de jovens no Brasil e, particularmente no nosso Estado do Espírito Santo, onde o índice de violência que atinge toda a população e, em especial a juvenil é um dos mais altos do país. Não faz muito tempo, que o jornalista Roberto Garcia Simões publicou no Jornal A Gazeta um artigo entitulado: “Cemitério de Jovens”.  No citado artigo, o autor lembrava que, entre os anos de 1998 e 2008 foram 6.979 as vítimas de homicídios e 2.102 de acidentes de trânsito, isto se falando de jovens entre 15 e 24 anos. São aproximadamente 1000 mortes de jovens por ano. Nas palavras do jornalista um verdadeiro “genocídio estadual de jovens”.

Pois bem! Louvo a atitude da nossa Igreja Católica e das demais Instituições e Igrejas que se uniram em torno desta campanha. É mais que necessária e urgente. Parabenizo as iniciativas do Setor Juventude (Pastorais da Juventude da Igreja Católica) e outros Movimentos Juvenis da Sociedade por essa empreitada tão desafiante. Mas, gostaria de defender uma ideia, que nem sempre tem sido bem compreendida e aceita por algumas lideranças jovens acerca dessa campanha.

Muito se tem refletido sobre as causas de toda essa violência contra nossa juventude. E quase sempre a reflexão aponta para a falta de políticas públicas para a adolescência e juventude da parte dos governantes. Concordo plenamente que muito mais se poderia e se poderá e se deve fazer nesse sentido. Quem de nós não vê todos os dias os nossos recursos públicos se esvaindo pelos “ralos da corrupção”, pela “festa dos super-salários” de alguns escalões do governo, dos jogadores de futebol, etc. Não há como não concordar que há muita omissão e responsabilidade de nossas autoridades em todo esse “genocídio de jovens”.

Não obstante a tudo isso, sinto falta de uma outra reflexão que me parece não muito presente, nem muito bem acolhida no rol das discussões sobre essa campanha. Tenho expressado, em nossos encontros pastorais, manifestando a minha preocupação de que, em nenhum momento se proponha aos próprios jovens envolvidos no evento, e com o mesmo calor das demais reflexões, a questão da “responsabilidade pessoal” dos jovens nesse cenário de extermínio da juventude. Creio que, ao lado das reivindicações e protestos contra a omissão e falta de responsabilidade dos que dirigem o estado, o país, é preciso chamar os jovens a refletir sobre o uso da própria liberdade e os critérios de suas escolhas, que, em muitos casos, colaboram e muito para o crescente índice de violência. São jovens matando jovens, pais de coração partido, chorando seus filhos mortos devido a uma equivocada concepção de autonomia dos filhos, fruto de uma equivocada pedagogia dos direitos e limites da criança e dos jovens. Temo que o nosso evento, digo nosso, porque também sou Igreja e cresci na pastoral da Juventude e numa Igreja comprometida com as causas sociais e desejosa da transformação da sociedade, se reduza a uma oportunidade de apontar culpados externos e responsabilizá-los por toda a violência que vem exterminando nossos jovens; temo que percamos a oportunidade de fazer dessa grande celebração um momento de um apelo profundo também a uma conversão pessoal, a uma revisão de comportamentos de risco de muitos de nossos jovens, que insistem em pilotar motos alcoolizados, dirigir em alta velocidade, matar a curiosidade sobre os efeitos das drogas, contra todas as orientações de pais e educadores, de deixar de lado a comunidade em nome das muitas tarefas escolares, da ilusão da riqueza fácil, etc. Há responsabilidade pessoal, sim. E seria providencial que os próprios jovens falassem aos seus iguais sobre isso, juntamente com a cobrança das políticas públicas. Não podemos sair desse evento achando que a solução virá apenas de cima, daqueles que nos governam. Ela será fruto de uma parceria de atitudes, de uma dupla tomada de consciência: dos responsáveis pelos setores públicos e de cada um de nós, no que toca à conversão pessoal.

Conheço jovens e jovens, inclusive já sepultei alguns, que morreram vítimas de suas escolhas erradas e não apenas por culpa de um sistema político. Outros tantos por isso também, é claro. Conheço viúvas e viúvos, órfãos e pais cujos cônjuges, pais e filhos morreram por atitudes irresponsáveis, mesmo tendo recebido uma boa orientação e educação, mesmo gozando de condições sociais condignas.

Sem um encontro com a pessoa de Jesus, que leve a uma conversão pessoal e a uma atitude de comunhão com todos os homens e mulheres de boa vontade, o mundo continuará tal e qual. Sinceramente, acredito que os meus amados jovens não discordam disso. Apenas acho, que no calor das discussões sobre as políticas públicas, corremos o risco de deixar de lado a reflexão sobre a responsabilidade pessoal, que não é, de modo nenhum, menos importante dentro de todo esse cenário de extermínio de nossos jovens.

Lutemos! Reivindiquemos! Rezemos! Mudemos algumas atitudes!

 

Padre Ailton Menegussi é reitor do Seminário Maior de São Mateus e Coordenador do SAV

 

Fonte:

Seminarista Victor Pereira do Nascimento